segunda-feira, 15 de abril de 2013


" Tudo se copia..." Era assim que dizia o velho Abelardo Barbosa.Vai checar no google quem era a pessoa citada? Cuidado para não se espantar! O pernambucano ousava vestir-se de forma caricaturesca e dizer, brincando, algumas verdades. De péssima dicção, reinventando vozes ele foi um dos maiores comunicadores do país. Já um gaúcho de intrínseca personalidade, dizia do alto de sua responsabilidade poética que " a poesia não se entrega a quem a define" ou que "ser poeta não é dizer  grandes coisas mas ter uma voz reconhecível dentre todas as outras". Esse cara, viu o seu legado lírico ser negado por diversas vezes na Academia Brasileira de letras e, um dia, do alto de sua grande sabedoria rabiscou:
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
 E não muito depois disso, um certo Manuel, envergonhado com a resolução do grupo acadêmico,escreveu exaltando os versos do gaúcho:
Meu Quintana, os teus cantares
Não são, Quintana, cantares:
São, Quintana, quintanares.

Quinta-essência de cantares...
Insólitos, singulares...
Cantares? Não! Quintanares!

Quer livres, quer regulares,
Abrem sempre os teus cantares
Como flor de quintanares.
Se você parou para ler o meu texto, deve está se perguntando o que quero dizer. Pois bem, dei exemplo de pessoas que ousaram fazer diferente e que não se entregaram a mesmice das convenções. Mario , o Quintana , hoje é um dos poetas mais lidos no Brasil e muito me admiro quando dizem o " Grande Quintana "! Pouca gente sabe que enquanto o Brasil chorava a morte de Sena, o velho Mario se despedia também, como viveu sua vida silenciosa e ironicamente, colocando no papel realidades, que pasmem, hoje são copiadas e reverenciadas. Se conhecem a obra do poeta já devem ter percebido sua forma incomum de falar da morte, parece que previa o que aconteceria quando partisse. Eu chorei por Mario e por minha nação tão pobre de esperança.
Ouvi, segunda-feira, alguns comentários falando do erotismo da poesia de Vlado
Lima, confesso que fiquei perplexa com o rótulo que foi dado ao poeta. Erótico? Ora! Muita gente deve ter faltado as aulas de literatura e interpretação na escola. Vlado Lima passou longe do erotismo mas saiu do lugar comum, inventando o corriqueiro, o que se pensa e não se ousa dizer. Irreverente, sarcástico e contemporâneo, Vlado dá um show de inteligência sem se importar com o espetáculo. Longe das rimas pobres e do tentar copiar, ele diz em metáforas excepcionais a realidade cáustica de um homem que cresceu no subúrbio e viveu de perto a desintegração social e familiar, a inversão de valores de uma sociedade de conceitos hipócritas e muito pouco contundentes. Ele só não fez o que é previsto, não rimou amor com dor e de forma irreverente falou de dor sem que fosse preciso citá-la.
Convido os nobres amigos para um passeio literário, como forma de aguçar as linhas de nossos versos, mas vejam, não peço aqui que façam o Ctrl V e troquem palavras, convido-os a uma interpretação íntima e não ínfima do ser poeta que reside em cada um, pois se a nossa luta é em prol do poeta vivo, sejamos vivos , sagazes e capazes de honrarmos nosso fardão ,diplomas e medalhas para construirmos estradas sólidas para os nossos netos para que tenham o privilégio e a coragem de ousar e de expor suas ideias, de formarem opinião e construírem, eles próprios, seus caminhos baseados na interpretação real dos fatos sem esbarrarem nos muros comuns da mesmice. 
Aline Romariz

Nenhum comentário:

Postar um comentário