sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A POESIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA por Angela Ramalho


            Falar de Poesia Brasileira Contemporânea significa falar da poesia que se produz hoje em território nacional. Quem são os poetas brasileiros contemporâneos? Quantos são? Onde estão? Que estilo de poesia produzem? 
            Eduardo Vaack, poeta brasileiro contemporâneo, afirma que “a poesia produzida atualmente no Brasil é bastante diversificada, possuindo inúmeras cores, tendências e matizes”.
            Já a jornalista Andréia Martins, contrariando outros posicionamentos sobre o tema, afirma que a poesia brasileira não saiu de cena e que os poetas brasileiros contemporâneos continuam ativos, criativos e irreverentes. É inegável a importância da Poesia Brasileira Contemporânea e nunca se viu tantos blogs e tanta disseminação de poesias nas redes sociais por esse país.
            Atualmente vejo muitos poetas (e me incluo entre eles), divulgando seus escritos nas redes sociais, em blogs, jornais, revistas eletrônicas, publicando em antologias, participando de lançamentos e eventos literários, numa verdadeira ânsia em obter reconhecimento. Não que isso não seja importante ou não deva ser o objetivo de escritores iniciantes. A esse respeito, a Revista Eutomia, especializada em literatura e linguística, em artigo sobre a Poesia Brasileira Contemporânea, afirma:

“Parece não ser vital que o poeta se interesse pelos meios que seus escritos chegarão às pessoas, se a  obra  é  marginal  ou não, nem se a poesia chegará a ter, hoje ou amanhã, a atenção que é dada à prosa, o que  na verdade  não  interessa,  pois  não  é  a  partir  disso que deve acontecer  algum  parâmetro, mas sim no  que  ela  pode oferecer como investigação para o mundo”.

            Talvez, antes da preocupação em divulgar nossa produção literária, deveríamos nos perguntar: O que a nossa poesia pode oferecer como investigação para o mundo?
            Quanto ao mundo penso que seja algo muito amplo ou abstrato, mas nossa poesia pode oferecer uma gama de investigações para a nossa cidade, o estado em que moramos e principalmente ao nosso país.
            O nosso olhar para a poesia não deve distanciar-se da realidade social. A Poesia Brasileira Contemporânea será tão importante, tão lida ou tão valorizada, na exata proporção em que incomodar.
            Em abril de 2013 uma comitiva de poetas contemporâneos entregou no Senado Federal a obra “Manifesto Poético pela Paz”. Antes mesmo que o país acordasse e se organizasse para as manifestações de rua que assolaram o país durante o mês de junho, poetas brasileiros contemporâneos pertencentes ao Portal do Poeta Brasileiro (cerca de cinco mil poetas) e a ANLPPB – Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro (aproximadamente cem poetas) reivindicaram providências através da sua arte.  
            A sensibilidade desses poetas sinalizou antecipadamente que as coisas no país não estavam bem. Não havia nenhum sinal de manifestações, mas os poetas brasileiros abriram caminho, numa atitude até então inédita.
            Aline Romariz e Teco Seade, respectivamente Presidente e Diretor Cultural do Portal do Poeta Brasileiro e da ANLPPB assim se pronunciaram, abrindo o manifesto:

“Chega de escrever a História do Brasil com tinta vermelha. Não aguentamos mais boletins diários regados à lágrimas de mães, cenas dramatizadas  pelo  desespero de pais, vazios em vidas de jovens que ainda não possuem o macro entendimento do que está acontecendo quando enterram  um  amigo. Nós  somos  mais  que isso. Nós temos que ser mais que isso. Não  é  possível  que  o Brasil, esse celeiro de talentos, continue adubando  suas  terras  com carne  humana  ceifada  de suas famílias. Quantos mais terão ido?  Quantos  mais  terão  tirado a roupa aos 07 ou 10 anos de idade, para o turismo sexual? Quantas mais terão ficado grávidas dentro de casa?  Quantos  mais  espancamentos de mulheres, crianças e idosos? Diante  de tudo isso, nossa poesia sobrevive. E sobrevive para gritar. Gritar muito alto. E continuará gritando aos quatro cantos enquanto houver desmando, impunidade, opressão,  ignorância, fome e corrupção. Que Deus nos perdoe. E que assim seja”.

            Eugène Delacroix, pintor francês que viveu de 1798 a 1863, já dizia que “o mais belo trunfo de um escritor é fazer pensar os que podem pensar”. E olhem que isso foi dito por um pintor!
            Acontece que tanto a pintura quanto a literatura, assim como as artes em geral, devem levar à reflexão quem delas sofre influência. O escritor, independente de ser amador ou não, tem responsabilidade social. Sua escrita contém a sua visão de mundo, mas ele não pode esquecer que exerce papel fundamental na formação de seus leitores.
            Refletindo sobre a produção literária de alguns escritores contemporâneos, cito aqui três autores brasileiros que, com suas obras, cumpriram com sua responsabilidade social de me fazerem pensar: São eles: Lu Narbot, Marco Hruschka e o poeta parnaibano Diego Mendes Souza.

Lú Narbot escreve de forma clara, usa de suavidade com as palavras, transcreve a realidade nua e crua, mas com tamanha sutileza, que não consegue nos assustar ou ferir. Dona de um lirismo extraordinário, seus textos nos fazem meditar, como no poema abaixo:


Meditação

Agora eu tenho tempo de olhar lá fora
E ver o sol.
Mas já não há  mais sol.
Por que é que na vida
Ou passamos correndo demais
E nada vemos,
Ou,
Quando paramos,
Nada mais há para se ver?

Marco Hruschka  dispensa apresentações. Ele mesmo se apresenta: “Eu escrevo para que as pessoas sintam e pensem em demasiado, para que saiam da normalidade de suas vidas. Para mim, a literatura tem a função de tirar o indivíduo de seu eixo. É dessa forma que procuro contribuir”.  
E ele literalmente nos tira do eixo quando escreve algo assim:

Semitonar-se
Às vezes só os bemóis me acalmam...
Porque no sofrimento semitonado
Encontro a fonte das dores que exalam
Tudo aquilo que não posso suportar.
Existe ali uma angústia...
Algo anterior ao mundo...
Uma coisa que jaz...
E que ao mesmo tempo
Faz com que eu renasça!
O sofrimento é revigorante!
Quem não sofre não é feliz!
Não vejo sequer uma luz ao longe,
Nem perto, nem nunca
E mesmo assim tudo cresce em mim.
Mas a esperança é a primeira que morre.
E é justamente isso que dá sentido
A essa posição fetal na qual eu me encontro.
Me encontro...
A vida é um eterno semitonar.


Diego Mendes Souza, com o seu “Candelabro de Álamo” me ganhou quando disse: “Acredito na poesia que eu proponho te fazer escutar”.
Precisa mais? Não! Sou toda ouvidos para escutar a poesia que me propões!

A poesia está soprando novamente

Amolinda, tenho que dizer
Que a poesia está viva
Dentro de mim.
A poesia está soprando novamente, Altair.
Eu que permaneço em silêncio
E a poesia me rapta
Sem que eu creia
Nas divindades.
Olho os teus olhos
E sei que a poesia me busca
Veloz e sorrateira
Como um astro andaluz.
Encontro as tuas mãos navegantes
Nos meus abismos de manhãs.
A poesia vem com a aurora em neblina
E em teus cabelos se faz passageira.
A cigana e a fera
A minha febre
Derradeira.



10 comentários:

  1. Angela, gostei muito de seu texto. Ainda ontem estive lendo a Revista Eutomia, pois, como não tenho formação acadêmica em Literatura, preciso prepara-me para escrever o trabalho. E chamou-me a atenção exatamente o trecho que você coloca em seu trabalho. E quero agradecer você ter-me incluído entre os poetas que analisa. Obrrigada.

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  2. Angela, parabéns. Sempre bom apreciar textos bem produzidos e que traduzem temas relevantes, em especial este que trata justamente do nosso movimento poético. Reitero a importância dos poetas citados na poesia contemporânea. Grande abraço.

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  3. Obrigada Lu Narbot, esse trecho da Eutomia me fez pensar. Será que essa correria atrás de divulgação é válida? De repente, você leva um "cutucão" e alguém diz que o parâmetro não é por aí. Mas creio que deixaremos na nossa poesia parâmetros investigativos para o mundo. A sua é plena deles! Sou sua fã!

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  4. Obrigada amigo Geraldo Sant'anna! Acho super válido Aline nos propor esses estudos. Precisamos estudar e nos fundamentar mais. Só assim cresceremos enquanto grupo!

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  5. Angela, parabéns pela contextualização. O trabalho ficou muito bom.
    Rosana Nobrega

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  6. Meus parabéns pelo trabalho, Angela. Ficou de primeira. Fico muito honrado em saber que me admira e ainda mais por ter citado meu nome no teu artigo. Grande abraço!

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  7. Obrigada Rosana Nóbrega e Marco Hruschka pelos comentários! Marco é um jovem poeta talentoso, aqui da minha cidade e sinto-me meio que "madrinha" em ter intermediado sua entrada na ANLPPB. Nem precisa agradecer, meu amigo! Seus versos falam por si! Abraços!!!

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  8. Seu texto claro e preciso expõe a triste realidade de nosso país. Em contrapartida nos convence que nós poetas do Portal do Poeta Brasileiro e acadêmicos da ANLPPB temos nas mãos a poesia para transformar cenários políticos e sociais. Parabéns!

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  9. Obrigada Tereza Azevedo! Que bom saber que nossa poesia assume essa característica transformadora e que este é o caminho!!!

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  10. Amiga, Angela parabéns pela sua bela desenvoltura na temática, oportunizando boas reflexões! Só hoje consegui tirar um bom tempo e ler os trabalhos já entregues. Tenho aprendido muito. Grata por sua contribuição!

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