Vivemos uma época singular e
paradoxal. De um lado, o culto à matéria, ao instantâneo, ao superficial e no
outro extremo, a busca pela essência e pela transcendência. A busca por algo
que ultrapasse o imediatismo e assegure ao homem a sua condição de ser que
pensa, crê e, principalmente, sente. Busca-se a poesia.
...
Sergio Bittencourt disse
que “ninguém é poeta por saber rimar”.
É certo. Pois, ainda que
seja louvável a busca por palavras de sons iguais e composições métricas, não
está aí o quê se pode definir como poesia.
Em perfeito pari-passu com a história do homem, a
poesia adquiriu com o correr do tempo as mais variadas formas, passando por versos
alexandrinos, parnasianos, românticos, simbolistas, concretos etc. até que em meados da década de 1920,
chegou-se ao predomínio dos versos livres.
Ao predomínio do conteúdo e não da forma.
A poesia pôde, enfim,
voar em seu elemento: o puro sentir!
Não que antes não bebesse
dessa fonte, pois os sentimentos sempre foram o seu principal alimento. Porém,
a exemplo do amor que cantava, o poema vestia tantas armaduras que a beleza de
sua alma ficava restrita aos poucos capazes de entendê-la.
No Brasil, esse panorama sombrio só mudou a partir da década de
1920 com a “Semana de Arte Moderna de 1922”, que revelou,
entre outros Mario e Oswald de Andrade e Carlos Drumonnd.
Depois, em meados de 1968,
a poesia tomou um novo fôlego com a explosão cultural que seguiu às rebeliões
contra a Ditadura e contra o chamado “Sistema”. E como gênero literário, foi revalorizada
a partir do surgimento de uma nova e talentosa geração de poetas, tais como
Roberto Piva, Chacal e aqueles outros que musicavam os poemas produzidos, pois
as letras de rock, de baladas, de sambas, de “músicas de protestos” etc. cantavam
os mesmos temas afeitos à poética.
E se fez mais. Junto com
o incipiente talento de Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Milton
Nascimento, Simone e tantos (as) outros (as); poetas já renomados como Vinicius
de Moraes, trocaram a caneta pelo violão.
Outros, sem o talento
musical do “Poetinha”, foram integrados à explosão cultural que enfim popularizou
o talento e a sensibilidade de João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira,
Cecília Meirelles, Thyago de Mello etc. que então adentraram majestosamente em
teatros, em cinemas, em shows, sambódromos etc. Em paralelo, assistiu-se ao
nascimento de menestréis do porte de Cazuza, Wally Salomão etc.
Mais recentemente, a
poesia enquanto expressão do sentir sofre algum prejuízo por conta da baixa qualidade
na entressafra de poetas, porém, o futuro próximo se mostra alvissareiro em
decorrência das facilidades que a Internet disponibilizou para quem exercita a
arte de escrever. Afinal, todos, independentemente do talento, podem publicar
seus escritos sem se sujeitarem aos crivos de Editores e Críticos. E certamente
essa grande oferta haverá de produzir a qualidade a que o Brasil se habituou.
E é
nessa trilha que aprendizes como este escrevinhador se lançam. Homens velhos e
novos poetas que buscam ofertar o que lhes passa, o que lhes marca e o que lhes
fica.
Cantamos
amores findos, amores vindos. Falamos do que vimos, do que ouvimos. Contamos
das lutas que lutamos; das utopias que buscamos, dos sonhos que abandonamos e,
principalmente, declamamos o que somos: poetas; porque sentimos, mesmo sem
saber rimar.
Parabéns, Fabio, por este texto que nos brinda, de forma poética e lírica, com um panorama da Poesia Brasileira, desde fins do século XIX, até os dias atuais. E que deixa em nós a esperança de um futuro onde a Poesia estará sempre viva, não importa os meios em que se expresse e publique. Texto digno do grande poeta e escritor que você é.
ResponderExcluirParabéns pela pesquisa e por nos proporcionar mais um momento de aprendizado.
ResponderExcluirUm passeio pela poesia e o seu legado, desde os poetas que nos antecederam até os tempos atuais. Leve como deve ser uma boa conversa e pedagógico, no sentido de nos levar à reflexões e ao conhecimento. Parabéns, poeta Fabio Renato Villela!
ResponderExcluirO que proporciona prazer de ler deve ser compartilhado.
ResponderExcluirPeço licença a todos que escreveram sobre poesia contemporânea, para compartilhar nas minhas páginas sociais.
Parabéns Fabio Renato Villela, Lu Narbot, Teresa Azevedo, Liz Rabello e Angela Ramalho.
Um forte abraço.
sem duvida a poesia moderna deve aos cancioneiros sua fase mais popular e criativa. abraços
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