segunda-feira, 18 de novembro de 2013

POESIA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL POR FABIO RENATO VILLELA

Vivemos uma época singular e paradoxal. De um lado, o culto à matéria, ao instantâneo, ao superficial e no outro extremo, a busca pela essência e pela transcendência. A busca por algo que ultrapasse o imediatismo e assegure ao homem a sua condição de ser que pensa, crê e, principalmente, sente. Busca-se a poesia.
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Sergio Bittencourt disse que “ninguém é poeta por saber rimar”.

É certo. Pois, ainda que seja louvável a busca por palavras de sons iguais e composições métricas, não está aí o quê se pode definir como poesia.

Em perfeito pari-passu com a história do homem, a poesia adquiriu com o correr do tempo as mais variadas formas, passando por versos alexandrinos, parnasianos, românticos, simbolistas, concretos etc. até que em meados da década de 1920, chegou-se ao predomínio dos versos livres. Ao predomínio do conteúdo e não da forma.

A poesia pôde, enfim, voar em seu elemento: o puro sentir!

Não que antes não bebesse dessa fonte, pois os sentimentos sempre foram o seu principal alimento. Porém, a exemplo do amor que cantava, o poema vestia tantas armaduras que a beleza de sua alma ficava restrita aos poucos capazes de entendê-la.

No Brasil, esse panorama sombrio só mudou a partir da década de 1920 com a “Semana de Arte Moderna de 1922”, que revelou, entre outros Mario e Oswald de Andrade e Carlos Drumonnd.

Depois, em meados de 1968, a poesia tomou um novo fôlego com a explosão cultural que seguiu às rebeliões contra a Ditadura e contra o chamado “Sistema”. E como gênero literário, foi revalorizada a partir do surgimento de uma nova e talentosa geração de poetas, tais como Roberto Piva, Chacal e aqueles outros que musicavam os poemas produzidos, pois as letras de rock, de baladas, de sambas, de “músicas de protestos” etc. cantavam os mesmos temas afeitos à poética.

E se fez mais. Junto com o incipiente talento de Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Simone e tantos (as) outros (as); poetas já renomados como Vinicius de Moraes, trocaram a caneta pelo violão.

Outros, sem o talento musical do “Poetinha”, foram integrados à explosão cultural que enfim popularizou o talento e a sensibilidade de João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira, Cecília Meirelles, Thyago de Mello etc. que então adentraram majestosamente em teatros, em cinemas, em shows, sambódromos etc. Em paralelo, assistiu-se ao nascimento de menestréis do porte de Cazuza, Wally Salomão etc.

Mais recentemente, a poesia enquanto expressão do sentir sofre algum prejuízo por conta da baixa qualidade na entressafra de poetas, porém, o futuro próximo se mostra alvissareiro em decorrência das facilidades que a Internet disponibilizou para quem exercita a arte de escrever. Afinal, todos, independentemente do talento, podem publicar seus escritos sem se sujeitarem aos crivos de Editores e Críticos. E certamente essa grande oferta haverá de produzir a qualidade a que o Brasil se habituou.

E é nessa trilha que aprendizes como este escrevinhador se lançam. Homens velhos e novos poetas que buscam ofertar o que lhes passa, o que lhes marca e o que lhes fica.
Cantamos amores findos, amores vindos. Falamos do que vimos, do que ouvimos. Contamos das lutas que lutamos; das utopias que buscamos, dos sonhos que abandonamos e, principalmente, declamamos o que somos: poetas; porque sentimos, mesmo sem saber rimar.



5 comentários:

  1. Parabéns, Fabio, por este texto que nos brinda, de forma poética e lírica, com um panorama da Poesia Brasileira, desde fins do século XIX, até os dias atuais. E que deixa em nós a esperança de um futuro onde a Poesia estará sempre viva, não importa os meios em que se expresse e publique. Texto digno do grande poeta e escritor que você é.

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  2. Parabéns pela pesquisa e por nos proporcionar mais um momento de aprendizado.

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  3. Um passeio pela poesia e o seu legado, desde os poetas que nos antecederam até os tempos atuais. Leve como deve ser uma boa conversa e pedagógico, no sentido de nos levar à reflexões e ao conhecimento. Parabéns, poeta Fabio Renato Villela!

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  4. O que proporciona prazer de ler deve ser compartilhado.
    Peço licença a todos que escreveram sobre poesia contemporânea, para compartilhar nas minhas páginas sociais.
    Parabéns Fabio Renato Villela, Lu Narbot, Teresa Azevedo, Liz Rabello e Angela Ramalho.
    Um forte abraço.

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  5. sem duvida a poesia moderna deve aos cancioneiros sua fase mais popular e criativa. abraços

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