segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

POESIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA -Silvia Araújo Motta



POESIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA






Silvia Araújo Motta-Cad. 48 na ANLPPB






1-INTRODUÇÃO


As transformações, pelas quais a Literatura vem passando há alguns séculos e décadas instigam pesquisas inovadoras no campo poético, ora em Língua Portuguesa ou em outros idiomas.


Para atender a proposta da ANLPPB busquei o dorso da capa ou sobrecapa de vários livros de minha estante, para explanar sobre a importância da Poesia Contemporânea dentro da minha experiência profissional e pessoal. Como ponto de partida, retomei dados históricos da discussão teórica, com propriedade para a inclusão da prática nesta realidade específica.


Em meu ambiente familiar aprendi a {Arte de Fazer Versos} clássicos e românticos, de forma fixa e, principalmente artísticos obedecendo a rima, o metro e o ritmo. Meus pais e meus tios sempre promoviam Saraus Literoculturais, entre amigos, ao som de vários instrumentos musicais. Com minha mãe e meus irmãos aprendi a tocar violão e harmônio, desde os sete anos de idade. O Decálogo de Metrificação sempre me orientou nas composições poéticas. Quanta saudade dos versos clássicos de Cassimiro de Abreu, Alfred Musset, Coleridge, Heidegger, Garcia Lorca, Florbela Espanca, Castro Alves, Olavo Bilac, Bocage, Camões, Fagundes Varela, Guerra Junqueiro, Vicente de Carvalho, Djalma Andrade, Olegário Mariano,Guilherme de Almeida, Santo Tomás de Aquino, sem esquecer-me dos Salmos Bíblicos...que declamei em teatros.


A versificação acentual isócrona, de efeito métrico, tem na base silábica portuguesa a unidade de medida do verso que se acomoda em um número fixo de sílabas, limitado por um acento tônico final, obrigatório. A tendência isossilábica obedece à estrutura perfeita rítmica auditiva que atende ao número e disposição dos acentos, aos exemplos dos Sonetos clássicos, Éclogas, Rondel, Pantum, Triolé, Haicais, Vilanela, Trovas clássicas da UBT e outros. Podemos considerar o dodecassílabo, o verso mais longo, normalmente empregado pelos poetas, embora existam exemplos de VERSOS BÁRBAROS de forma fixa de treze sílabas: de Francisco Otaviano, de quinze sílabas: de Abel Pereira e de dezessete sílabas: de Mário Quintana. Não importa se o poema é lírico, narrativo ou lúdico.


Quando fui Professora de Língua Portuguesa e Literatura fiz questão de trabalhar bem, todos os gêneros disponíveis na cultura, caracterizados por seus três elementos: conteúdo temático, estilo e construção composicional. Nos poemas, avaliamos também a declamação, aconselhada por Aristóteles, na pauta clássica e lírica de Petrarca e Camões. Historicamente, as produções literárias geram usos sociais, articulados em número ilimitado, em diferentes situações comunicativas, na língua materna, apesar da multiplicidade dos mesmos.


O conhecimento especializado incentiva a criação poética, com maior facilidade e habilita a ação e a interação crítica textual concomitante no mundo em que vive.






II-TEORIA E HISTÓRIA


O poeta francês Gustave Kahn, em 1902, foi principal teorizador do Verso Livre; procurou estabelecer-lhe os princípios, que podem ser assim resumidos:


a) O Verso deve possuir sua existência própria e interior consubstanciada numa coerente unidade semântica e rítmica;


b) A unidade do verso será então definida com o fragmento mais curto possível em que haja uma pausa da voz e uma conclusão de sentido;


c) A estrofe não terá mais um desenho preestabelecido, mas será condicionada pelo pensamento ou pelo sentimento.


d) A inversão e o cavalgamento são recursos que devem ser banidos do verso. Os poetas Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Henriqueta Lisboa, Alaíde Lisboa, Saul Alves Martins, Conceição Piló, Edir Carvalho Tenório, Mário de Andrade, Juraceí de Barros Gomes,Walter Cardoso, poetas falecidos, muitas vezes aplicaram estes princípios em seus poemas.


Seguindo o exemplo de outros poetas, Henri Morier salienta que {não podemos dizer que exista a priori, uma técnica uniforme do verso livre. Cada POETA procura forjar o seu próprio instrumento, não sendo raro o mesmo autor, ensaiar modelos e criar suas próprias técnicas...} A rima do verso não se preocupa com seu valor, nem com a fonética, nem mesmo quanto à colocação do acento tônico das palavras. O autor letrado tem a fina sensibilidade expressiva e o perfeito domínio do material linguístico. Os poetas sem letramento não aprenderam a formalidade do registro, mas podemos afirmar que aplicam a sonoridade literária de outros poetas...Os trovadores repentistas exemplificam esta citação.


As principais características da primeira geração modernista registram a intenção formal de destruir o academicismo da métrica, da rima, da linearidade do texto poético, do sentimentalismo romântico, do racionalismo realista-naturalista e da linguagem de dicionário, entre outras. Outras gerações sugeriram outras formas de versos livres. Os versos brancos ou soltos, descadenciados, receberam a mistura entre a prosa e a poesia, sem os preceitos da versificação; em vez de adjetivos e advérbios houve a preferência por substantivos e verbos; com palavras em liberdade, associadas por analogia, em vez dos processos sintáticos tradicionais. O heterônimo Álvaro de Campos de Fernando Pessoa foi considerado um pré-modernista, em Portugal, em termos artísticos e filosóficos, desde a Revista Orpheu dos escritores jovens, de 1915.


Sabemos que o processo de elaboração de um POEMA CONTEMPORÂNEO é quase informal, não obstante tenha recebido propostas históricas que marcaram a Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, nos dias, 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, ano do Centenário da Independência do Brasil e da Fundação do Partido Comunista Brasileiro.


O Manifesto da Poesia Pau-Brasil, de 1924 e a Antropofagia de 1928 adentraram por completo ao Modernismo. Entre os literatos e poetas, tomaram parte Graça Aranha, Guilherme de Almeida, Mário de Andrade (1893 - 1945), Menotti del Picchia, o líder Oswald de Andrade, Renato de Almeida, Ronald de Carvalho, Tácito de Almeida, além de Manuel Bandeira com a leitura do poema: Os Sapos. Alguns críticos literários reconhecem que, a despeito de todos os antagonismos, esse evento configura-se como um fato cultural fundamental para a compreensão do desenvolvimento da Arte Moderna no Brasil, e isso sobremaneira, pelos debates públicos mobilizados (cercados por reações negativas ou de apoio) e riqueza de seus desdobramentos na obra de alguns de seus realizadores.


Não é difícil imaginar a repercussão causada pela notícia do Jornal A GAZETA/SP, de 22-02-1922: {Ao público chocado diante dos poemas sem rima[...]:sons sucessivos, sem nexo, estão fora da arte musical; são ruídos, são estrondos; palavras sem nexo fora do discurso; são disparates com tantos e tão cabeludos que nesta semana conseguiram desopilar os nervos do público paulista, que raramente ri às bandeiras despregadas...}


Considerando que a Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, tem a MISSÃO DE PROPAGAR A ARTE POÉTICA E VALORIZAR O POETA CONTEMPORÂNEO E VIVO gostaria de registrar a poemática e características líricas de muitos mineiros: Mercês Maria Moreira, Zeni de Barros Lana, Conceição Abritta, Paulo Geraldo Correa, Mauro José de Morais, Adilson Cerqueira Soares, Ivone Taglialegna Prado, Ozório Couto, Daniel Antunes Júnior, Elza de Moura, Avelar Rodrigues, Marco Aurélio Baggio, Rogério de Alvarenga, Maria Aparecida Meyer Pires Rezende, Maria Ribeiro Pires, João Quintino Silva, Maurino Araújo, Deiwson Ferreira de Magalhães, Eduardo Antônio de Oliveira Toledo, Emerson Luis de Castro, Roberto Carvalho, Ronaldo Vieira Aguiar, Carlos Felipe de Melo Marques Horta, Raymundo Nonato Fernandes,Franklin Lopes de Freitas, Luiza Miranda, José Carlos Serufo, Clara de Assis Souza Guimarães, José Carlos Baeta,Laura Aparecida da Silva,Relva do Egypto, Renato Passos,e outros.


JOSEMAR OTAVIANO DE ALVARENGA é médico-ortopedista, poeta vivo e contemporâneo, nascido em Santana do Riacho/Serra do Cipó/MG:


[...Como autêntico andarilho das estrelas,/


caminho por mundos diferentes/


e por estradas cheias/ de crostas planetárias/


sob olhos tristes e lacrimejantes,/


corpo débil e bastante alquebrado/


divisando somente um cenário/


de sonhos...de esperança./...]






ARAHILDA GOMES ALVES, poeta viva e contemporânea, nascida em Uberaba/Minas Gerais, Artista Plástica, Pianista.


[...] O liquem viscoso dos rios passa as pernas


por entre as coxas fibrosas das montanhas


que se curvam recebendo o orgasmo da natureza.


A língua esbranquiçada da neblina


traça evoluções corpóreas...]


[Por entre as fendas maceradas da terra...]


[...E os tentáculos enciumados do sol


arrancam, furiosos, a camisola suada


da noite plena de amor.]






III-CONCLUSÃO


Vale ressaltar a importância das redes sociais. Os sites propiciam a divulgação rápida, on line! “É um sucesso o mundo virtual, revirtual, virtureal e transreal de contato com pessoas diamantinas, pérolas do mais alto quilate, sereias que navegam céleres pelo céu-mar da literatura”. Falta cultivar a adequação à realidade dentro de limites da liberdade, equilíbrio e verdadeira justiça, com fartura e benefícios para todos. Autores criativos e talentosos estão sempre imbuídos do espírito cooperativo, humanístico, fraterno e solidário. Não resta dúvida, que existem os perigos e má utilização das exposições indevidas.


Quem tem essa oportunidade virtual, logo se encanta e fica hipnotizado pelo charme e magia de grandes artistas da palavra. É um trabalho diário prazeroso extraordinário: ler, responder os emeios, pesquisar, compor e divulgar poemas para vários países.


Vale especificar o inédito número total dos textos poéticos registrados no site do Recanto das Letras Virtuais, nesta data, 15 de dezembro de 2013: Acrósticos(52.170), Cirandas(4.606) Cordel (19.609), Duetos(21.016), E-livros(14.559), Haikais(68.993), Indrisos (16.380), Poesias(1.619.164), Poetrix(128.110), Rondel (6.358), Sonetos(116.029), Tautogramas(1284), Teoria Literária (3.275), Trovas (53.886), Alelos Esmeraldinos (2.306), Tritofes(1302), Mindim (5.439), Ecosys (1352), Merlix(171), Oitava Fechada(183), Sextilha Real(627), Vaivém Nunix(612), Varano (632) , Medianeiro (748), Trínomo Gabaldista(823), Poémata( 672), Poemglo(168) e outros experimentais.Tutoriais (1.706). Tornei-me RAINHA INTERNACIONAL DOS ACRÓSTICOS, a partir das minhas postagens. Já ultrapassei a composição de sete mil poemas/acrósticos. Fui eleita entre os Onze SONETISTAS do Brasil/CAPPAZ. Graças aos primeiros contatos pelo computador, pertenço às vinte e seis Academias de Letras, Ciências e Artes do Brasil e exterior, como Membro Titular, Membro Benemérito, Membro Honorário e/ou Acadêmica Correspondente.


É relevante analisar as dificuldades que tive para a elaboração de mais de 300 sonetos clássicos-líricos-sáficos-heroicos, com a exigência da sonoridade tônica na 4ª. 6ª, 8ª e 10ª sílabas, com a mensagem essencial no 14º verso, dentro do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa e ainda, compondo imagens retóricas com metáforas, imagens, metonímias.


À moda do Noneto Musical de Villa Lobos, criei o Noneto Poético, dentro do Soneto clássico. À moda da Cartrova eu criei os Carversos: Carta em Versos. Cabe ao Poeta a liberdade de apresentar seu estilo da melhor forma, de acordo com as situações cotidianas.


No Brasil, temos centenas de excelentes poetas que não possuem a oportunidade de divulgação de seus trabalhos em livros ou na mídia. Muitos são conhecidos, apenas entre as pessoas de seu relacionamento local ou regional. Parabéns à iniciativa da ANLPPB, de valorizar e divulgar autores vivos e contemporâneos.


Sílvia Araújo Motta/BH/MG/Brasil.


Email:clubedalinguaport@gmail.com















quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A POESIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA por Stella De Sanctis



A POESIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA










STELLA DE SANCTIS
















Cumprir a solicitação da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro é imensa satisfação e, embora os trabalhos dos confrades e confreiras já tenham dito absolutamente tudo sobre Poesia Contemporânea Brasileira, apenas teço algumas considerações de cunho geral e subjetivo, e limito-me a "reafirmar" alguns conceitos considerados extremamente pertinentes para o entendimento dos rumos da Poesia no início deste milênio tão eclético quanto conturbado.




A Poesia Contemporânea Brasileira emerge na tecnocracia atual como um "grito paradoxal" e "necessário", insinua-se, transpõe sufocamentos cibernéticos e "anacronismos sócio-político-filosóficos" de uma era complexa que tange "a fome de tudo" e "solidões aglomeradas": grita a verdade subjetiva e coletiva, valendo-se de livros, e-books, web-blogs, sites, saraus, transportes coletivos, rádio, televisão; grafitada em muros, portões, praças; escrita em lenços de papel e até tatuada na pele... Mas, ainda que a poesia se insinue, ainda vivemos num país onde é precária a formação de leitores e a cultura é desvalorizada.




Segundo definição de mestres e estudiosos, a Poesia apresenta-se como um "organismo vivo e mutante", onde a questão social é presente, refletindo um momento de transição, onde escrever o presente tange futuro e passado, carrega os prós e contras da globalização, onde Contemporaneidade e Pós-Modernidade ainda se entrelaçam nas diversas formas de produção de textos: esboço de um quadro que, continuamente, ganha novos matizes rumo à sua ampla identidade.




Mormente os travos da globalização, que frequentemente vulgarizam e empobrecem o vocabulário, desvalorizando identidades no processo linguístico cultural regional, gerando, muito frequentemente, um linguajar empobrecido, vemos, com grande esperança, o ressurgimento da poesia e diversos gêneros literários, como crônicas, prosas poéticas e outros, bem como o aumento de leitores proporcionado pela internet e as novas tecnologias. Mesmo que a internet exija o mínimo de letramento por parte do usuário, há que se admitir que seu acesso intensificou a produção e a leitura de textos variados. Em contrapartida e apesar dos meios de comunicação, do crescente aumento de pequenas e médias editoras e do impulso da autopublicação ou de edições em cooperativas, a divulgação do autor e sua obra ainda é árdua em um país com analfabetos e péssimos leitores, resultantes da má política educacional e insuficiente incentivo à cultura por parte do Estado.




Buscando novas formas de expressão, a partir de uma crítica apurada da realidade, criando formas inovadoras, a Poesia Contemporânea Brasileira classifica-se nas seguintes correntes de vanguarda ou grupos literários: Poesia Social, Poesia Concreta, Tropicalismo, Poesia-Práxis, Poesia-Processo, Poesia Realista, Poesia Surrealista, Poesia Imitativa, Poesia "Cíbrida" (contração de "híbrido e cibernético", com uso de design, arte e tecnologia), Poesia Marginal, etc... Apresenta uma espetacular capacidade de se comunicar com o leitor e provocá-lo, é permeável, dialoga sem preconceitos com o universo em que está inserida, espargindo o perfume da sensibilidade numa sociedade endurecida e carente de Arte: toma toda liberdade, enuncia tempos, amplia-se em sentido, transcende-se na dureza e/ou leveza de suas linhas, enfrenta segmentos ainda herméticos à pluralidade de vozes, é multifacetada, compreende aspectos metafísicos, extrapola o mundo fático.




Ritmo é importante na Poesia (na Grécia Antiga e na Idade Média as poesias eram cantadas) e nos dias de hoje pode-se abandonar rima e métrica na construção de textos poéticos mas "nunca se abre mão do ritmo". Na batida frenética do terceiro milênio, onde pululam constelações de poéticas excelentes, compondo uma verdadeira vitrine de luz, com nuances diversificadas que fazem da Poesia uma galáxia de cores, torna-se trabalho árduo - e, por que não dizer doloroso - escolher apenas três poetas, deste imenso luzido. Atrevo-me a destacar Lúcio Alves de Barros, de Belo Horizonte- MG, licenciado em Ciências Sociais pela UFJF, mestre em Sociologia e doutor em Ciências Humanas, autor do livro “Fordismo: Origens e metamorfoses” e organizador da obra “Mulher, política e sociedade”, dentre outros trabalhos não menos importantes. Segue seu poema "Jardins Suspensos" e a força de sua construção poética:










JARDINS SUSPENSOS










Jardins suspensos na noite calada que a lua teima a queimar




Uma flor ferida e sangrando está no meu peito




Quase não consigo respirar nesse ar seco




As costelas andam batendo uma na outra




E uma pequena taquicardia arrepia meu corpo










E essa lua cheia dela mesma




E ela cheia de si mesma




E eu cansado de mim mesmo










Minha saudade é uma lágrima que cai em fogo




Olhos de limão verde a arder na inquietude




Corpo cansado e amassado




Ferido e quebrantado no fim do dia que não desejo ver










E ela neste sorriso que rasga minha alma




Iluminando a rua, o corredor, a sala




Cheia dela e vazia de mim










Lúcio Alves de Barros
















Outro poeta que encanta em versos aparentemente simples, capazes de nos seduzir com poucas palavras, é Oswaldo Antônio Begiato, de Jundiaí-SP. Seus poemas "Dura Passagem" e "Cosedura" dão-nos a exatidão de sua bela poética:






















DURA PASSAGEM










A vida é feita de Sol;




Sol de boca pura,




Sol de pouca dura,




Banhada de manhãs;




Manhãs de fazer tremer.










A vida é feita de arames;




Alguns arames farpados,




Alguns arames esticados




E muitos outros bambos;




Bambos de fazer temer.










A vida é fila e a tristeza ilusão!




O resto é teatro.










COSEDURA










Olhem este dedal!




De dedos frágeis




e olhos penetrantes,




guarda uma aliança




e esconde um arroio.










Olhem esta agulha!




De linhas tênues




e força mulheril,




guarda um alinhavo




e esconde um palheiro.










Olhem estas mãos!




De dedos frágeis,




e de linhas tênues,




guardam uma vida




e escondem o amor.










Oswaldo Antônio Begiato










A alma feminina é versátil, a mulher desdobrável, como bem frisa Adélia Prado, e, dentre tantas guerreiras da vida e da palavra, ouso destacar a poeta e romancista Teresa Azevedo, pela sua resiliência e a força de suas trovas extremamente femininas, cheirando a pétalas de margaridas, plenas de alma e sentido. Teresa publicou “Caramelos Emaranhados, Poesia com Brandy, Peripécias de Poeta, Reflexos no espelho”, dentre outras obras, onde sua escrita surreal cativa o leitor, como estátuas de vento sobre pedras sonoras. Aqui destaco o poema "Masmorra", de notório encantamento.










MASMORRA










Escaravelho vermelho




Silhueta máscula




Casca e músculos




Cérebro desconexo




Íntimo miserável




Broche de rubi




Blusa de rendas




Pecados sob as saias




Altivez e castigo




Lembranças fugidias




Ostracismo cruel




Masmorras sombrias




Pesadelo




Distância




Solidão










Teresa Azevedo
















Embora o lirismo seja, na maioria das vezes, subjetivo, com predomínio de sentimentos e emoções, ele inunda a trama, extrapola-se, interpreta o leitor e seu contexto, apossa-se e é apossado, numa simbiótica jornada. Assume a missão de resgate do indivíduo e do coletivo, é atrevimento salvífico... Se o poeta, artífice de extremos, vaga em lumes, a perseguir luas sonâmbulas, na maioria das vezes, vaga pelas pontas das lâminas que retalham sonhos e tolhem liberdades, como a desafiar as traves que sangram e paralisam, a restaurar valores e direitos sufocados, induzir ou preparar novos caminhos: versando, o poeta amplia sua sina, sua senda, sua oferenda... E, para finalizar tais considerações sobre a força e magia poéticas, segue o lembrete, à guisa de um bom conselho, como bem versam Oswaldo Antônio Begiato e Manoel de Barros...










CUIDADO!










Não queira




a loucura de um poeta




entender .










Aquilo que loucura




parece ser




é lucidez,




e é loucura




aquilo que




lucidez parece ser...










Oswaldo Antônio Begiato










E aquele que não morou nunca em seus próprios abismos,




Nem andou em promiscuidade com seus fantasmas, não foi marcado.




Não será exposto às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema...










Manoel de Barros

POESIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA Por Dalva Saudo

POESIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA

Dalva Saudo

Não poderia iniciar este trabalho tão importante sobre a poesia contemporânea sem citar Aline Romariz em sua competência neste momento para nós poetas. Exemplo da atualidade para o Brasil. Quem está acompanhando sua trajetória há de concordar!

O poeta contemporâneo além de escrever versos, narrar o amor, a dor da ausência, conquistas e perdas, as belezas do Brasil e do mundo também vai à luta em sua conscientização de olhar transformador.

Espalha livros por onde caminha: Escolas, feiras, ônibus, estados brasileiros. Palavras chaves: Luta, garra, conscientização. Praxis como nos ensinava e ensina o Pedagogo Paulo Freire.

A ANLPPB faz a diferença em não ficar apenas em honrarias.

Aline Romariz chegou não só para lançar “chuvas” de poesias ora calmas outras agitadas e conscientizadas pelo Brasil e um olhar para o mundo, mas também abrindo espaços para que nós poetas pudéssemos marcar efetivamente presença agora também pela rádio Iluminatta.

O poeta contemporâneo é polivalente! Descreve a beleza de seu país, mas também está focado em sua urgente e necessária mudança. Tem senso crítico da realidade e está focado em seu país que tem como lema a democracia, sem deixar de ter os momentos lúdicos de transcendências.

A ANLPPB é um exemplo: Está em vários projetos para acordar esse gigante adormecido e está conseguindo. Já esteve em ônibus, está em praças, escolas, em datas comemorativas e já esteve até no Congresso Nacional dando seu "grito de alerta!"

Pela minha experiência verifico que poucos poetas estão presentes em saraus e quando o fazem o público é pequeno. Há necessidade do poeta se locomover como os outros artistas, espalhar versos em seu bairro, cidade, estado, país.( O que faz com prioridade a ANLPPB)

Infelizmente nem todos tem condições físicas ou monetárias para irem além dos limites físicos ou geográficos. Com a modernidade o poeta pode transportar fronteira através da internet e agora também por uma rádio específica.

Válida é a intenção de homenagear o Poeta Vivo em diversas formas. Já homenageei e fui homenageada! Como diz o Rei e também poeta Roberto Carlos... "São muitas emoções..." (indescritíveis).

Alguns poetas vivos e suas características líricas:

Costumo dizer que vejo a beleza perto de mim. Aqui mesmo no bairro vejo o pôr do sol, árvores floridas e cantos dos pássaros. Não sinto necessidade de atravessar fronteiras ou outros horizontes. Por esse motivo cito mais poetas:

José Luiz Pires: Livro "Poemas Inadequados" pela Editora Iluminatta.

Diz Conceição de Arruda Toledo ao prefaciá-lo: "O autor é às vezes romântico, outras sensual e até mesmo espiritual e surrealista; é de uma versatilidade incrível nos temas desenvolvidos."

No poema "Brasil Sensual" descreve com encantamento as curvas do Brasil com alusão às curvas da mulher e no coração do poeta há vagas para o amor, amizade e o principal a solidariedade!

Teresa Azevedo que além de versos de seus sentimentos íntimos de amor, humor e dor está empenhada em solidariedade, para transplante de órgãos. Proponho a leitura de seu livro “Caramelos Emaranhados” onde cita essa campanha.

Outros exemplos de poetas contemporâneos,além dos muitos que poderia citar, como Rosana Cappi, Lu Narbot, Rachel dos Santos Dias... Um leque de poetas que dizem mais que qualquer palavra o que significa ser POETA CONTEMPORÂNEO envolvido, crítico do seu mundo, engajado em solidariedade! Parabéns aos poetas vivos que espalham suas emoções!

Virna Teixeira diz: “A internet representa um espaço democrático e de baixo custo de editoração, visto que é difícil e caro publicar livros de poesia no Brasil (a maior parte dos poetas estreantes e nem tão estreantes assim têm que custear suas edições). As editoras, além disso (com algumas poucas exceções), têm resistência a publicar livros de poesia e tradução, as tiragens são pequenas e a distribuição limitada, atingindo um número pequeno de leitores.

A internet significa assim uma forma de acesso a um número maior de leitores de poesia, a um leitor também não especializado e que tem pouco acesso às revistas impressas de poesia contemporânea. Os blogs e revistas literárias eletrônicas têm revelado um número muito maior de leitores do que se imaginava existir. A possibilidade de interação direta com o leitor e com outros poetas (como por exemplo nos blogs) é maior, facilitando o diálogo e uma permeabilidade de contato, embora a discussão ainda seja escassa. É possível também criar espaços coletivos, de afinidades que ignoram, que diluem a distância geográfica.



Além disso, a possibilidade de utilização de recursos audiovisuais, a facilidade de acesso de qualquer local ou país que se esteja é muito positiva para a difusão da poesia e para a troca com outros países. Há por exemplo um contato maior hoje com blogs de Portugal, para citar um exemplo. A informação circula mais.



Um risco que observo, no entanto, é o da pressa na hora de escrever e publicar os poemas, de "acontecer". O risco também da auto divulgação, da mídia. É preciso tempo, projeto. Acalmar a pressa contemporânea, saber usar de forma reflexiva a internet, que além disso é uma excelente ferramenta de pesquisa.” Por Virna Teixeira



Virna Teixeira nasceu em Fortaleza (CE), em 1971. É autora dos livros de poesia Visita e Distância.



Termino com um pequeno discurso do livro “CRÍTICA LITERÁRIA CONTEMPORÂNEA” de autoria de Alan Flavio Viola pagina 132.

“Não podemos permitir reduzir a vasta galáxia da poesia contemporânea brasileira a um pequeno sistema solar de onde sentimos que não conseguimos sair, mantendo nas trevas poetas de riquezas insondáveis.”

Penso que o sonho da ANLPPB é esse de nos encaminhar da treva para a Luz.

Luz desse enorme território brasileiro, para que não ficássemos exclusivos apenas nos minúsculos saraus de nosso município.

Muitas vezes já fui reconhecida como poeta na sociedade onde resido por fazer parte da ANLPPB. Sinto que sou valorizada. Que minha poesia é lida e ouvida. Digo isso não por ego, mas para humildemente, dar provas e relatos da importância da ANLPPB que não veio apenas como mais uma academia, mas para efetivamente valorizar o poeta em seu grande leque de atividades.

Por esse motivo...

Ela chegou mansa... Calma... Poetizando a vida e nos impulsionando.





De Aline Romariz:

Cheguei

Mansa...Calma

Felina fêmea

amante,amada...

Poetisando a vida....

Cheguei!

E vou mostrar minha alma!

Há duas metades em mim

que se cruzam a espera

do muito que é você aqui...

Cheguei....

Leve, free e solta...

Versejando...

Sem métrica,

sem escola,

sem freios

sem rédeas....

Você vai gostar de mim!

Aline Romariz



quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A POESIA CONTEMPORÂNEA POR MARISA GONÇALVES DE ALMEIDA SANTOS







POESIA & CANÇÃO – UM FLERTE










Não desmerecendo sequer um dos nossos grandes poetas imortais, penso que, a poesia contemporânea, vai muito além de regras, técnicas e estéticas da escrita, mas ela deixa aflorar sentimentos e questionamentos que refletem as dores e o grito da multidão calado na garganta. O poeta contemporâneo empresta a voz poética ao povo indignado, ele é o detentor privilegiado de levar à tona as várias questões existencialistas da alma. É o clamor da mulher injustiçada, das classes desfavorecidas, do pouco caso e dos acasos da vida. A poesia contemporânea reflete a reação do inconformismo quanto a assuntos devastadores em diversos âmbitos que permeiam o mundo. O poeta traz consigo a riqueza da palavra que se torna cúmplice e amante de ideologias diversas.




Retorno um pouco no tempo, vamos nos deter um pouco aos tempos da Ditadura militar no Brasil. Era evidente a repressão e censura cultural e artística de 1964, onde cantores, compositores, artistas, escritores e poetas tiveram que se calar para não sofrer as represálias de um governo autoritário que paulatinamente colocava as “manguinhas de fora” e restringiam ao máximo a expansão da cultura no país. Os “anos de Chumbo” atacaram sem a mínima piedade, todos que consideraram contra o regime vigente, consequentemente, estes por sua vez, em resposta aos constantes ataques do governo, tiveram que criar artifícios e estratégias variadas, para que seu trabalho fossem liberados. Lançaram mão de metáforas, criaram jogos de linguagens, se aproximando muito dos poetas concretistas (brincando com as palavras). Cantores como Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Geraldo Vandré, Gilberto Gil, Novos Baianos, Raul Seixas, Edu Lobo, Jair Rodrigues, Elis Regina. Moraes Moreira, Baby Consuelo, Pepeu Gomes e muitos outros, foram abordados, sentenciados, censurados e amordaçados em sua liberdade de expressão. Notem que as canções destes autores maravilhosos são pura poesia, deixando o eu lírico aflorar-se e falar por si mesmo. Mas afinal, o que é uma canção, senão uma poesia? Pois relata a própria vida em sua essência, em ritmo, prosa e versos.




Fomos marcados pela censura, mas o tempo procurou apagar tais episódios trazendo à tona cantores e autores com a poesia tatuada na alma. Foi-se a década de 60 e vieram os hippes, com a ideologia da “Paz e Amor” (década de 70), seguidos pelos Titãs, Barão Vermelho (Cazuza), Legião Urbana e Ira (década de 80), Vale aqui se lembrar de Tom Jobin (Bossa Nova) e Vinícius de Moraes (Poeta Lírico), que entoavam letras recheadas de indignações a fatos que marcaram a época, sem contudo, nunca deixar do lado o lirismo poético bem elaborado, e principalmente acessível a todas as gerações e todas as camadas sociais.




As palavras, não podem ser encapsuladas e direcionadas somente a determinadas classes sociais e muito menos encarceradas em decorrência de decretos repressores absurdos e não servir a nenhuma. Existe uma linha tênue entre a poesia e a canção, ambas estão sempre flertando, e esta cumplicidade deve fluir e flutuar no ar, alcançando todos os ouvidos, todas as sensibilidades e possibilidades de interpretação, derrubando barreiras e tirando o ser humano do estado de torpor e dormência. Eis a riqueza da poesia, da escrita, ou seja, a conexão total com o ser humano. Poesia é vida, é transcendência, é dar e se doar, é forçar a reflexão, é ser geradora de mudanças.




O Pós-Modernismo quebrou os grilhões, e a palavra saiu vencedora. E hoje pede passagem para sua liberdade da Escrita. Trouxe ferramentas tecnológicas eficazes, através da Internet e Redes Sociais, para que a escrita atravessasse fronteiras, desbravasse corações e mentes sem nunca perder o lirismo adequado.




É quase inviável citar um autor de destaque, pois a gama é vastíssima, pois todo autor que exprime um fato ou um sentimento passando pelo viés do coração é um poeta por excelência.




Mas se homens e mulheres do passado se eternizaram através da poesia, o que dizer dos dias atuais? A valoração do poeta vivo não pode deixar passar despercebidos três nomes, contemporâneos meus, grandes amigos e poetas líricos: Juscelino Vieira Mendes (o Jusça), poeta baiano de Vitória da Conquista, Ivete Cassiani Furegatti (a Ivetinha), poeta paulistana, e Edenilda Franchi Andrade (a Éden), poeta mineira. Todos radicados em Campinas/SP. A importância deles não é pelo grau acadêmico que possuem, ou por suas condecorações pomposas, não querendo de forma alguma desmerecer tais condecorações. Mas os traços que o evidenciam são um caráter inabalável, sobriedade, visão e transparência na arte da expressão poética. Transitam confortavelmente entre varias tendências,do Romantismo ao Simbolismo, sem prejuízo algum ao texto.




São exemplos de poetas contemporâneos vivos que me fizeram trilhar o caminho das letras e não podem cair no esquecimento jamais.




Encerro esta exposição com pequenos fragmentos dos textos poéticos destas pessoas maravilhosas.




SONHOS PRETÉRITOS




[...] Quanto sinto a finidade se aproximar




Recolho-me




Olho para o mar em quietude e gratidão




Acolho-me em sonhos pretéritos [...]




(BALÉ DO ESPÍRITO – Mendes, Juscelino Vieira-Campinas: Editora Komedi, 1999-p. 66).




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LABIRINTO




[...] Há tantas entradas e saídas do labirinto da vida que,




perante as encruzilhadas, só nos resta a dúvida [...]




(V COLETÃNEA KOMEDI-Vários autores (entre eles: Furegatti, Ivete Cassiani, Editora Komedi, Campinas-2001-p. 143).




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CHUVAS DE ESTRELAS




[...] o revoar das estrelas com seu estonteante brilho, retornando aos seus lugares. A brisa com sua suavidade afaga a natureza.




O silêncio se transforma em canção. O avermelhado do céu cai no horizonte e fiel na sua recomposição faz voltar tudo o que é belo[...]




(V COLETÂNEA KOMEDI-Vários autores (entre eles: Andrade, Edenilda Franchi, Editora Komedi-Campinas-2001-p. 62).




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BIBLIOGRAFIA




Dreguer, Ricardo/Toledo, Eliete, História-9º-Ed. Saraiva SP, 2009.




Mendes, JuscelinoVieira-Balé do Espírito-Campinas-SP: Editora Komedi, 1999.




______________, V Coletânea Komedi, Campinas, SP, 2001.




Bechara, Evanildo C.(Org.) Dicionário Escolar da Academia Brasileira de Letras- Cia.editora Nacional, SP, 2011.







MARISA GONÇALVES DE ALMEIDA SANTOS-CADEIRA 24

anlppb - academia nacional de letras do portal do poeta brasileiro




POESIA CONTEMPORÂNEA. POR ALBERTO SLOMP




POESIA CONTEMPORÂNEA.




Estamos vivenciando a época contemporânea, em que o país passa por modificações sociais, políticas, econômicas, tecnológicas, com nova mentalidade e valores surgindo como consequência dessa evolução.

Toda a situação deste tempo e espaço tem influência nas artes do povo manifestada principalmente na poesia. Ainda não sabemos como o período atual, contemporâneo, vai ser tratado pelas próximas gerações, mas, com certeza será estudado pelas futuras gerações e rotulado.

A linguagem da atualidade sofreu alterações, inclusive pelo uso da internet.

Hoje o poeta pode fazer uma poesia se expressando livremente, sem a necessidade de obedecer a padrões de rima e métrica, sem o apego às normas rígidas e de sonoridade. Enfim, o poeta é livre.

Atualmente o poeta se expressa para ser compreendido pelo povo e poder dele se aproximar, pois a pretensão de um poeta é ter a sua obra lida e ver as suas ideias e trabalhos divulgados.

Nessa linha de pensamento temos a poesia regionalizada que conta os problemas e tudo o que ocorre no lugar.

Com a internet ficou muito mais fácil à comunicação entre as pessoas, reduzindo os custos para a divulgação dos trabalhos literários e reduzindo as distâncias.

A publicação de um livro em papel no Brasil é muito cara e bem poucos conseguem publicar um livro, pois além dos custos, a maioria das editoras quer publicar autores consagrados; assim, os novos autores precisam arcar com todos os custos da produção e divulgação da sua obra.

Em razão da facilidade na obtenção de notícias e até mesmo de livros pela internet, houve também a consequência negativa para os negócios do mercado de livros em papel.

Ainda assim, há muitas pessoas se dedicando à literatura e hoje há uma variedade muito grande de estilos no mercado que atende todos os gostos, todos os tipos de públicos, seja pela internet, sites, facebook’s, blogs, publicação em papel, saraus.

Enfim, o poeta se manifestou em outras épocas e sempre se manifestará, não importa em qual tempo ou espaço.

Temos muitos poetas contemporâneos e podemos conhecê-los e estudá-los na Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro - ANLPPB.

POESIA CONTEMPORÂNEA. POR YARA REGINA FRANCO



POESIA CONTEMPORÂNEA.


YARA REGINA FRANCO.






O que é contemporâneo? É referente ao tempo atual, onde se situa o aqui e agora. Não podemos falar do hoje sem lembrar que o contemporâneo sofreu a influência de movimentos anteriores. A poesia atual é produto do aperfeiçoamento da evolução social, histórica do ser humano.


No contemporâneo há modificação dos padrões sociais antigos, conforme se verifica em novos costumes que são retratados pelos poetas, inspirados nos temas do cotidiano. Existe uma nova forma de viver os relacionamentos com a derrubada de preconceitos. O homem deixou de ser “o cabeça do casal” e a mulher passou a ter igualdade de direitos e deveres; com o divórcio surgiu na sociedade à família mosaico; surgiu o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a barriga de aluguel; há novos conceitos e valores surgindo, por exemplo, novo padrão de beleza física, ou seja, nova forma de se cultuar o corpo com a prática de atividades físicas nas academias, os piercings, tatuagens, cirurgias plásticas, implantes e silicone; o uso e dependência do computador, dos celulares, da tecnologia; os avanços da idade e da medicina; a solidão, mal do século; o aumento da criminalidade e da “lei de Gerson”, ou seja, a lei da vantagem, a corrupção.


Tudo isso se reflete na linguagem, na poesia. O ambiente, o tempo e espaço em que vivemos tem papel primordial e se reflete na literatura e nas artes. Quando se derrubam os preconceitos surge a liberdade manifestada em todas as artes. Na poesia se manifesta com a liberdade da composição, não mais engessada com a necessidade de versos, rima e da métrica.


A poesia contemporânea encontra dificuldades com o mercado editorial, onde a prosa é preferida e, também, os autores renomados. Assim, os novos autores, independentes, para lançar o seu livro acabam arcando com os altos custos da produção e divulgação. Como estamos vivenciando esse período fazer uma análise mais apurada fica difícil.


Nota-se que a partir dos anos 90 há poetas escrevendo com diversas tendências, que são fortalecidos por diversos estilos e movimentos, havendo diversidade de gêneros e temas para todos os gostos.


Durante as últimas décadas, aproximadamente 40 anos, ocorreu a poesia concreta, a engajada e a marginal.


Os modernistas fizeram uma revolução que encontrou barreiras junto aos defensores da norma culta. Eles apresentaram a modernização das técnicas de composição poética com a abolição das rimas e da métrica e a valorização da língua e da cultura do povo.


Os modernistas destruíram antigos valores objetivando uma nova literatura mais próxima da realidade do povo, do seu linguajar cotidiano, coloquial.


A poesia brasileira se caracteriza hoje pela liberdade de forma, diversidade e riqueza.


Como a música e a poesia estabelecem um vínculo forte, vale lembrar que hoje se apresentam cantores e bandas de rock e rap com letras de músicas que tratam dos problemas do cotidiano nas grandes metrópoles, falando de personagens que lutam para encontrar melhores oportunidades de vida. Há poetas atuais, trovadores, que se destacam como admirados músicos populares. Podemos citar os tropicalistas: Caetano Veloso e Gilberto Gil, influenciados pelo movimento Antropofágico de Oswald de Andrade e pela poesia concreta.


Para ser poeta o fundamental é fazer poesia e escrever. Como o poeta é um cidadão o seu engajamento político pode ser importante, conforme o tema de sua escolha para escrever, principalmente se versar sobre psicologia, sociologia crítica, etc.


Como o nosso país, Brasil, é um país muito grande e de contraste, há a literatura regionalista, que trata dos problemas do local, com seu linguajar característico. Por exemplo: o sertanista trata do sertão e do seu habitante. A poesia mostra o folclore, influenciada pelos contos e lendas do povo, do índio. Assim, o poeta mostrando o seu sentimento íntimo, nos remete ao seu tempo e espaço.


As obras mostram o choque cultural do sertanejo, do rural com o urbano, as desigualdades sociais e a cultura nordestina. Na música destacou-se Luiz Gonzaga que cantava e versava sobre os problemas do sertão.


A linguagem nas diversas regiões apresenta variações motivadas por vários fatores sendo, também, falada de modo diferente; pode variar de um grupo social para outro. Além do mais, a língua passa por alterações decorrentes da transformação da própria sociedade, com palavras que caem em desuso e outras que surgem. É um processo natural da evolução.


Não basta escrever ou editar um livro, pois a finalidade e o objetivo só terminam com a leitura. O que importa é ser inventivo, original e claro, para ser compreendido pelo leitor e ser lido.


O poeta de hoje tem um compromisso e responsabilidade com a história, pois é a poesia produzida hoje que será estudada pelas gerações futuras e influenciará no amanhã.


Não vou citar trabalhos ou nomes de poetas contemporâneos porque todos os que estão na Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro – ANLPPB são poetas vivos contemporâneos e merecem destaques.




terça-feira, 14 de janeiro de 2014

RCT entrevista Aline Romariz



No cenário as raízes nordestinas,na sala ampla do centro de Campinas o contraste com o colorido da terra berço. O rosto cansado de quem labuta diariamente. A rádio funcionando a todo vapor, monitorada pela poeta, ativista que com muita disposição empresta muito mais que seu amor a arte, a poesia.O telefone que toca insistentemente,poetas procurando o colo da madrinha, consultores, alguém pedindo orçamento para o seu livro. O Mercado Editorial em 2013 teve um marco inusitado. A poesia , ocupou lugar de destaque , graças a pessoas como ela, que com muita seriedade trabalha há anos para obter esse resultado tão gratificante, essa resposta resultante de muita labuta, resignação e coragem. Confeso cansar-me com as atividades dessa batalhadora.É um número bem grande de afazeres, sempre diversos que tem como protagonista o verso: a Web Rádio, a Editora,o Portal do Poeta Brasileiro,a ANLPPB ( Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro.). Estou falando de Aline Romariz. Quando nos preparávamos para a entrevista, o som do telefone avisa que ainda não seria dessa vez, e muito abnegadamente, ela conversa com Elisa, sua amiga de versos, que só depois viemos saber de quem realmente se tratava.Tudo pronto! Ela acomodou-se em seu sofá e eu pude fazer as perguntas que preparei.


RCT: Ufa! Sufoco?


AR: Que nada. Hoje até que está calmo.


RCT: Poeta, esta é sua rotina?


AR: Gostaram? Queria que com toda essa correria eu, pelo menos, pudesse emagrecer.( faz uma careta  entre olhares)


RCT: Vamos começar pela Editora Iluminatta? Três prêmios de uma só vez?


AR: Pois é! Viram? Manifesto Poético Pela Paz/ Antologia ANLPPB II/ Antologia ANLPPB III, e não só isso. Nosso primeiro Livro infantil foi credenciado pelo MEC: Um Caminho Chamado Livro de Teco Seade.


RCT: Me parece que nada disso foi comemorado.


AR: Na verdade foi, muito intimamente. Mas quando lembro de alguns comentários maldosos, quando da época da elaboração das mesmas,me vem uma certa tristeza também.Uma sensação estranha que prefiro não explicar.


RCT: A Editora é da Senhora e do Sr. David Seade, certo?


AR: Sim. É a Iluminatta que viabiliza um monte de coisas que o Portal ,por não ter pretensões comerciais, não faz.E ao mesmo tempo, dá a mim e a Teco Seade um pouco de renda, por que somos responsáveis por nossas famílias e como arrimo de família temos que comer . A Web Rádio não existiria se não fosse a Iluminatta. Muitos poetas não fariam parte da ANLPPB se não fosse a Iluminatta.


RCT: Como assim? Pode explicar melhor?


AR: Há uma parte guardada no numerário da Editora para viabilizarmos tudo isso.


RCT: O pessoal que faz parte do Portal tem ciência disso?


AR: Já foi várias vezes dito e "redito". Se quiser dizer, fique à vontade.


RCT:E por que surgiu a ANLPPB?


AR: Com o intuito de fazer líderes em estados da união, que divulguem nossos trabalhos e projetos e sobretudo a nossa meta que é a valorização do poeta vivo.


RCT: Quantos são na ANLPPB?


AR: 100 Acadêmicos.


RCT: Então o trabalho é muito divulgado no Brasil.


AR: NÃO. Muito poucos têm essa consciência e guardam seus diplomas e medalhas para as fotos.


RCT: Isso incomoda a Senhora?


AR: Muito. Em breve vamos querer saber dos que querem ,realmente, fazer um trabalho coletivo e tratar de buscar pessoas que pretendem trabalhar coletivamente. Olha, para você ter uma ideia, temos a Web Rádio que fica no ar 24 horas por dia, e nós pedimos sempre que os poetas mandem textos gravados com seus créditos para fazerem parte de nossa programação. De um universo de 5000 poetas e cem líderes da ANLPPB, só 4 nos enviaram os textos. Vale ressaltar que não cobramos nada por isso, você viu o meu trabalho por aqui. Tem gente que mal ouve os nossos programas. O Programa de ontem, do Teco Seade dia 13/ 01, foi um programa de nível cultural altíssimo, tivemos poucos poetas em nosso chat e dois mil ouvintes no mundo todo. Uma Web Rádio tem alcance maior que uma rádio convencional. É a Rádio do futuro.Têm pessoas que não se dão conta, que quando tiverem seus livros nas estantes de uma livraria e o seu nome diariamente divulgado, muitas pessoas vão ter a curiosidade de comprar o livro, por que o poeta não será mais anônimo. É essa visão de empreendedorismo que poucos têm e não se tocaram ainda.


RCT: A Senhora já disse isso aos poetas?


AR: Você não quer tentar dizer? Por que acho que "Santo de casa não faz milagre". Cotidianamente convido-os a participarem  e a propagarem a Web Rádio que não é minha, é de todos eles.E olha, se não fosse algo sério, não teríamos os apoios culturais que temos e muitos outros que nos procuram para fazer parte. Faço Web Rádio faz tempo. Montei a primeira do Brasil.


RCT: Estão muito bem apoiados. Isso prova a respeitabilidade do seu trabalho, mas sinto certa mágoa de sua parte.


AR: Meu caro! Quem é capaz de fazer o que eu faço todos os dias? São 15:25 da tarde. Você já viu tudo o que fiz. A noite sou técnica de rádio até a meia noite. Além de trabalhar na Editora, de ser muitas vezes psicológa, de ficar horas e horas ao telefone ouvindo pessoas , de tratar com apoiadores, além disso tenho minha casa, meus filhos, meus problemas. Fora o que já tive de ouvir. Ouvi falarem mal das nossas coletâneas, essas mesmas que foram premiadas. Por que queremos o melhor, fazer qualquer coisa, pra mim não me completa. Jogar um monte de poesia sem um destaque maior para o autor, simlesmente jogar por jogar não é do nosso feitio. Enganar pessoas também não faz parte da minha índole.


RCT: Também tem isso não é?


AR: Enganadores? Aos montes. Mas tratamos com seres humanos dotados de inteligência, portanto não vou mais falar. A vida é feita de escolhas.O maior número de pessoas prefere sair bem na foto e mostrar a honraria para que todos curtam no FB e simplesmente, guardam em gavetas abarrotadas de muito dinheiro gasto.


RCT: Triste isso. É verdade que vão visitar outros países ainda este ano?


AR:  Sim, muito triste.Sempre disse que tínhamos de conhecer primeiro nossa aldeia, saímos duas vezes por ano para Regiões diferentes por que o convívio com as diferentes culturas nacionais é ferramenta indispensável para obra poética.


Em abril, vamos ou ao Rio de Janeiro, a Calda Novas ou a Campinas. Estamos fazendo uma enquete na Rádio para saber nosso destino.Disse também que só sairíamos do Brasil se fossemos convidados. Parece que temos dois convites, vamos estudar com muita responsabilidade esses convites e quem sabe levaremos nossa poesia para outros solos.


RCT: Bem, Poeta! Fomos incumbidos de vir até aqui por que sabemos da sua respeitabilidade e de seu trabalho sério, como também sabemos que seu novo livro já sai na Europa premiado e esgotado.


AR: Deus é bom pra mim.


RCT: Deus é bom para pessoas que trabalham e acima de tudo enxerga o coletivo. Baseado no que a senhora nos informou se o número de poetas que têm no PPB, se todos divulgassem os trabalhos e projetos vocês estariam muito melhor do que estão hoje, já teriam conseguido maior progresso.


AR: Faz um favor? Avisa aos poetas pra mim?


RCT: Poeta Aline Romariz, foi um prazer participar da sua rotina, de sentir o amor que tem pelo seu trabalho. A senhora é realmente uma guerreira. Para contatar a EDITORA ILUMINATTA como os leitores e ouvintes devem fazer? E para ouvir a Rádio e enviar seus textos?


AR: Eu agradeço imensamente a visita. Para contatar a Ed. Iluminatta: editorailuminatta@gmail.com, temos também nossa FAN Page no Facebook. A Web Rádio é só ver na Fan page do PORTAL o nosso stream e clicar nele. Quem quiser participar do Portal e ocupar uma Cadeira ( se quiser realmente trabalhar em prol da Poesia e ou nos mandar seus textos gravados para divulgação em nossa programação: portaldopoetabrasileiro@gmail.com.


RCT: Aline Romariz, parabéns pelo seu trabalho e por sua luta cultural


AR: Obrigada pelo espaço que me concederam.






R C T.


Entrevista ebc c/ Aline Romariz ( Presidente do Portal do Poeta Brasileiro)




domingo, 12 de janeiro de 2014

A POESIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA – Por Vera Margutti



A POESIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA – Por Vera Margutti


“Contemporâneo é aquele que mantém fixo o olhar no seu tempo, para nele perceber não as luzes, mas o escuro”. Giorgio Agamben


Nos últimos anos todas as relações pessoais do mundo inteiro tem se transformado, ou em função da economia, em função da tecnologia ou em função do posicionamento do próprio ser humano, cada vez mais isolado, fragmentado, urbanizado. Essas características de alguma forma influência e refletem na produção artística de um modo geral. A poesia brasileira contemporânea, também se espelha no momento presente, respira o ar da sociedade, os seus próprios sofrimentos e aspirações. Ela é arte por excelência, e a função da arte é questionar a realidade, investigar, pensar fazer refletir. Tirar do eixo, da zona de conforto, bem como também, trazer deleite, alento, conforto, alegria, prazer... Mostrar que o ser tem alma e sede de saber, de se extasiar diante do belo, do natural e do simples dom de viver. É a expressão subjetiva por meio da linguagem, das palavras que humanizam e que reagem sensivelmente a todas as manifestações e ações, como por ex. do sistema capitalista de consumo, que aos poucos vai “coisificando” o homem, limitando e anulando sua vez e voz.


O poeta contemporâneo procura ofertar uma nova visão de realidade ao homem comum, fazendo-o perceber com sua lírica a importância de ser único, especial, agente transformador. Deseja possibilitar sentir, de forma verdadeira, o mundo, sendo parte importante dele. A poesia liberta o homem de suas amarras e dá asas para ele voar livre, alarga-lhe o horizonte para enxergar as novas possibilidades que se abrem, para que se valorize e tenha um pensar crítico. Para isso ela também necessita ser livre, se soltar das garras da elite hierárquica, excludente. A poesia contemporânea já se apresenta de diferentes formas: múltipla e fragmentada como é o homem contemporâneo e está mais viva do que nunca, mas, ainda encontra-se presa por teias sombrias e inóspitas em nosso país.
Em “A cegueira da cisma - poesia brasileira contemporânea e sua crítica”

Renato Rezende, poeta, tradutor e crítico literário contemporâneo, Escreve:


“... apesar de potente, variada e abundante, a poesia brasileira contemporânea, ou pelo menos uma parte significativa dela, carece de lugar e de trânsito social, como se não tivesse valor cultural, como se não instigasse interesse e diálogo, como se falasse de algo alheio a nós; ou seja, como se a possibilidade de sua leitura tenha se tornado opaco, insolúvel, inassimilável. Muitas e entrelaçadas podem ser as razões para isso, num país que por muito tempo demonstrou ter uma forte tradição poética: as dificuldades de escoamento e circulação da produção escrita, numa época de primazia da imagem; o natural esgotamento das linguagens experimentais do modernismo; o abandono do projeto de construção de uma identidade nacional; o estabelecimento de políticas públicas para as artes alinhadas à cultura de massa e aos ditames de mercado; etc... – a poesia continua presa em cismas – ou falsos cismas – que a paralisam. É importante ressaltar, no entanto, que essa paralisia é da crítica, e não da produção poética. Incapaz de compreender a poesia contemporânea, a crítica – muitas vezes exercida pelos próprios poetas, instigados pela necessidade de elucidar a natureza do impasse – tem produzido dezenas de textos, mais ou menos felizes e elucidadores, na tentativa de digerir o passado para fruir o presente.”


“... O país continua a pensar de forma hierárquica, excludente, e isso ainda é muito presente nas academias. Está mudando, mas continua sendo o modus operandis da nossa sociedade, que é apenas falsamente aberta e plural, com uma elite muito mal preparada, insegura (e ao mesmo tempo arrogante) e inculta. Tal mentalidade e incapacidade de se abrir para a pluralidade de vozes que, isso sim, caracteriza o pós-modernismo e a experiência do contemporâneo, me parecem de grande pobreza. Tal situação excludente, no entanto, não deve durar muito. A poesia contemporânea brasileira, num todo, é de grande vigor, e essa riqueza múltipla aos poucos, vem à tona e encontra sua ressonância.”


No Jornal de Literatura do Brasil Rascunho, em “Poesia Sequestrada” fevereiro de 2013, Renato Rezende conclui seu ensaio dizendo:


“... Que venha um novo pensamento teórico/crítico, capaz de plenamente resgatar a poesia contemporânea — ou as poesias contemporâneas — de seu sequestro. Que venha um novo pensamento teórico/crítico, capaz de estar à altura do amplo leque de ações e produções da poesia brasileira contemporânea. Que venha um novo pensamento teórico/crítico, pois a poesia contemporânea brasileira está — desde muito — em renovação. Não podemos permitir reduzir a vasta galáxia da poesia brasileira contemporânea a um pequeno sistema solar, de onde sentimos que não conseguimos sair, mantendo nas trevas poetas de riquezas insondáveis. A crítica da poesia precisa estar à altura de um país que se pretende contemporâneo, plural, inclusivo e democrático.”


Com os grandes avanços tecnológicos, a internet e suas redes sociais, hoje a poesia contemporânea está conseguindo sair do “calabouço” em que foi submetida e está se disseminando pelo planeta. O poeta contemporâneo encontrou ali um espaço de divulgação de sua arte poética de livre expressão e sem os altos custos de impressão. E está se aventurando conectado, explorando a web e dando vazão a sua imaginação e inspiração.


As redes sociais atingiram sua maturidade e começaram a influenciar a Humanidade. Ainda que sem o propósito de manipulação da consciência coletiva elas ofereceram, de imediato, um instrumento de enorme penetração e os escritores logo perceberam a importância e o alcance desse novo recurso de comunicação e relacionamento. Escrever e divulgar ficou fácil, rápido e atingindo distâncias inimagináveis. Muitos escritores se sentiram estimulados a escrever, a tirar os seus escritos das gavetas, sair do anonimato e publicar na rede. Mas, mesmo com essa grande ferramenta disponível de divulgação, ainda assim, o escritor padece no árduo caminho editorial. Tendo que bancar as edições de livros com seus recursos próprios e ainda a dificuldade para colocá-los nas livrarias.


A internet oferece ao leitor inúmeras possibilidades de leituras através de livros digitais, e-books e outros formatos virtuais, mas, falta-lhes o hábito e o gosto pela leitura. Muitas campanhas, iniciativas isoladas e projetos de incentivo à leitura estão sendo realizados, mas, ainda é muito pouco para derreter o gelo do iceberg do desinteresse pela leitura em nosso país.






A Zunái- Revista de poesia &debates. “As várias poéticas contemporâneas” por Fabiano Fernandes Garcez. Publicou:





“... A poesia tenta restaurar, nesse homem, a individualidade. Talvez seja por isso o visível aumento das publicações de poesia, por pequenas ou médias editoras, edições financiadas pelo próprio autor, suplementos, periódicos e até mesmo publicações em vários formatos nos meios virtuais.”






Esse estudo possibilitou-me refletir e perceber ainda mais a importância de fazer parte da ANLPPB, essa academia que nos acolhe, e tem como real e fundamental o objetivo da valorização e divulgação da poesia do poeta vivo. Aclamando-o e eternizando-o. Para isso, sua diretoria trabalha bravamente, sempre inovando e criando formas simples, praticamente isentas de custos. Desbravando e levando primeiro e intensamente dentro de nosso país, a poesia contemporânea, em suas múltiplas facetas e especificidades. Seja através de saraus, antologias, redes sociais, projetos de incentivo a leitura, como o que ocorre todo dia trinta de cada mês e se intitula: “Um tesouro chamado livro”. E agora se utilizando também, da ferramenta do rádio, fazendo ecoar nossas vozes pelas ondas cibernéticas.


São muitos os escritores contemporâneos que admiro por cumprirem seus papeis sociais com brilhantismo, no pleno exercício do ser poeta e formador da consciência crítica transformadora.


Destaco, portanto, o poeta Renato Rezende, poeta reconhecido, escritor, tradutor e editor de livros, graduado em literatura espanhola pela Universidade de Massachusetts, Boston, EUA, e mestre em Arte e Cultura Contemporânea pela UERJ. Como poeta, é autor de diversos livros, e ganhador o Prêmio Alphonsus de Guimaraens da Biblioteca Nacional para o melhor livro de poesia em 2005. Suas últimas produções é uma trilogia. Dono de uma escrita pungente, penetrante e impactante. Para ele o escritor é um cristal através do qual a luz se filtra e irradia. Já citado neste texto, onde me “aproprio” de suas palavras, para bem ilustrar o estudo.


FESTAS


...Acordo de ressaca.

Eu sou melhor quando não sou.
(Eu me sinto melhor quando não sou.)

O Amor é esse outro Eu.

[Não é uma questão de competição, e sim de humildade].

Nesta nova manhã amo e dou as bênçãos—desejo o melhor—a todos nós, essas pessoas imersas no rumor da língua, nos sorrisos, nas danças dos corpos. E, nesta manhã, esse amor se levanta e se expande, se estende para a vizinhança, para a cidade sob a névoa, para o país nas trevas—para o mundo todo, atravessando continentes e séculos—em festas.






Destaco ainda o poeta Daufen Bach, escritor e poeta. Foi nomeado Cônsul dos “Poetas del Mundo”. É editor da revista virtual Biografia. Um romântico incorrigível e um boêmio frustrado, como ele mesmo se apresenta. Sua lírica é apaixonante e envolvente com a poesia incrustada nas coisas que nos rodeiam. Explora muito a temática do amor e paixão, além de poesias sociais e sensuais.


"faz de mim teu mimo mulher"


faz de mim teu mimo mulher,
despeja teu amor e não se arrependa.
crie caso,
me morda,
faz cara de amor partido,
mas faz de mim teu mimo mulher.
exceda. faz de mim teu
exercício...
vício.
me tome para teu gozo
com tamanha leveza
e não ligue para o sacrifício
da carne machucada.
faz de mim teu detalhe mais
discreto,
teu afeto,
... (Daufen Bach)


“da poesia invisível”
os versos perderam-se nas ruas,
eu os via seguindo pelos bueiros e esgotos,
se inundando de enxurradas e vertendo nas raízes das plantas.


eram caules
folhas
respiravam o odor do mundo, singulares, solitários
&
piedosos.
misturavam-se a invisibilidade natural
e desciam feitos raios de luz em dias em que as nuvens se despedem.
eu os via deitar no chão,
a esparramarem-se a leste e oeste,
a fazerem –se norte e sul.
eu os sentia enquanto caminhava com meus pés descalços de sensatez.


(Daufen Bach)



E para encerrar, destaco ainda, com as honras da casa a amiga poetisa e acadêmica Angela Regina Ramalho Xavier que me prende com sua maneira alegre, espontânea e irreverente, imprimindo em seus textos um pensar crítico. Consegue passar sua visão de mundo de forma clara e contundente.


SER POETA


Pô você é poeta?


Cara, isso é careta!


Careta faço eu,


Para a sua falta de (po) ética.


Quem disse que poetar é caretice?


Quem não entende a poesia,


Passa pelo mundo


De alma vazia!


(Angela Ramalho)









Vera Lucia Fávero Margutti – cadeira 41

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Trabalho sobre POESIA CONTEMPORÂNEA por Carlos Moraes

                                                 

Amor que pergunta seu tempo


Para saber se perdura


Não sabe que a eternidade se acaba


No instante em que se inaugura.






Uso aqui os versos do poeta vivo Thiago de Mello, mas proponho que seja substituído o termo “eternidade” por “modernidade”, assim estaremos próximos ao conceito de pós-modernidade defendido, principalmente, por Habermas e que pode ser definido como a compreensão do momento presente, como continuação da modernidade.


Considero que visto dessa forma, o pós-moderno de hoje é o moderno da pós-modernidade que será amanhã, e assim repetindo-se até termos esgotado esse período, e podermos de forma derradeira defini-lo. Essa é a posição de Foucault: a ideia de que a época atual – a contemporaneidade – não é, por enquanto, algo passivo de definição, pois ainda não houve a ruptura com a modernidade e que, portanto, é cedo demais para se ter um resultado.


A contemporaneidade nos permite, então, explorar a arte e a linguagem, usando de elementos que constituem a pós-modernidade, como a descentralização do sujeito moderno, as ferramentas tecnológicas e a cultura global.


Ao usarmos esses elementos, identificamos não apenas o renascimento da poesia (a poesia era considerada uma arte moribunda), mas esse veio acompanhado de um crescimento na produção e publicação inimagináveis sem a internet e as redes sociais; o discurso poético tornou-se abrangente, instantâneo e plural, é erótico, religioso, holístico, apolítico, capitalista, humanista, ou simplesmente reflete em palavras uma imagem colhida na rede; os textos usam palavras e expressões multilíngues, elementos gráficos computadorizados, escreve-se de forma livre, um afastamento total do academicismo, mas em contradição: usa formas arcaicas como o soneto ou novas formas como o haicai, ambas definidas por regras estritas; mas principalmente se escreve pelo verso livre, explora-se o neoconcretismo, a prosa poética, não apenas à la Baudelaire, também há os versos em prosa que são frases repartidas, sem rimas, ajustadas à tela como enfeites virtuais.


Todavia, esse mesmo uso dos elementos da pós-modernidade enseja seus revezes, o discurso poético perde várias vezes sua conectividade com a arte, aquilo que foi denominado pelo ensaísta e romancista Milan Kundera como “misomusia”, o horror à musa, ao que é complexo, ao perene, os temas centrais são individualizados por indivíduos que nem sempre estão preparados para um legado. Tenho sempre recorrente um conceito de administração: tornou-se voga no mundo, no início dos anos 90 do século passado, a reengenharia, e foi amplamente aplicado aqui no Brasil, país que ainda não havia feito a engenharia. Na poesia pós-moderna vemos isso se repetir, há um frenesi em se desconstruir a linguagem – abolição de pontuação, períodos, maiúsculas, uso excessivo de neologismos, de metalinguagem – que deveriam acrescentar ao processo linguístico, porém muitas vezes são realizados por quem ainda não aprendeu a construir a língua, portanto não podem aventurar-se em desconstruí-las (o criador de Riobaldo e Diadorim é o grande exemplo do construtor com capacidade de desconstrução, ou o contrário).


A poesia enfrenta também a dificuldade do linguajar globalizado, padronizado e veiculado em todos os lugares, em que não há mais uma identidade nacional, e o poeta brasileiro ainda não domina esses novos meios, essa nova língua, as novas tecnologias, e escreve no velho revisado português, para os leitores de sua própria aldeia, restringindo seu alcance. Por outro lado, como o canal maior de expressão é a internet, e nessa, as redes sociais, os leitores não são mais apenas leitores, são parceiros, colaboradores, amigos, e assim não há espaço para a crítica literária, não aquela acadêmica, que buscava enquadrar o poema, mas a crítica que estabelece parâmetros entre o bom e o ruim, o novo e o reciclado, o perene e o descartável. Não se pode, nos comentários, senão dizer qualidades, que nem sempre o poema tem, sob o risco de se perder um amigo, ainda que virtual, um canal de divulgação, ou uma rede inteira de leitores por discordarem de sua má educação.


A poesia contemporânea não permite, pois, a não-poesia, porque para se afirmar que determinada poesia não é poesia, há de se usar o argumento de Parmênides, e antes reconhecê-la como poesia, única e indivisível.


Finalizarei, então, esse breve texto, reforçando, por meio de exemplos, a poesia contemporânea, àquela que sobreviverá à transição para a pós-modernidade.






Carlos Moraes






- do ranger da escada. o ranger reticente. uma escola


de pescoço no fosso que é seu rosto. sabe, que por


sobre os escombros você é mais charmoso? na cripta,


em brisas sem cabeças, em gretas e entre os azulejos


de sua pessoa escapada de um incêndio: - veja outra


alma vendida, prêmio, entre o muro funestamente


antigo, de um reboco lamego, molhado por pintas e


rosas e flores de onde se vê um jardim num silêncio


de mariposas e pequenos morcegos (Quiróptera) em


delírium tremens ... não morra ... são hematófagos ...


adriana zapparoli






ORGIA ÍNTIMA






não aprendi


a domar meus avessos






meus inteiros despedaçados
recolhidos no olho do tumulto

(setembro guarda memórias
sumidas no ar)

não costurei minh'alma
no escárnio nem cantarei
em coro de grilo

no mais
sou tranquilo

(poema inédito, lau siqueira)






SOBRE UM LIVRO

Ler à noite
nesse quarto
à meia voz
metade som
metade sopro –
emprestar vida
ao livro
antes morno
sem rumor
deixá-lo que use
minha voz
me surpreenda
a cada linha
de língua inglesa
até que desalinhe:
ondula, angula-se
dobra a curva
e desaparece.


Laura Liuzze






Seus olhos acenderam meu segredo.
A noite vinha vindo em mim.
Eu fiquei com uma caixa
De abelhas na virilha.
Mas, pensando bem,
Algo de açougue havia naquilo
(Cheiro de alma moída).
Olhei. Vi
Da flor florescida ali
Desabrochar um leite ruivo
Do cacto que me polia o hímen.





NANDA PRIETO










Carlos Moraes


Cadeira 65 ANLPPB

A Real Situação da Poesia Contemporânea Brasileira por Rosana Montero Cappi




Teorizar sobre poesia é algo estranho para um poeta, ainda mais sendo ele um autodidata. A poesia é um dom inato, e o poeta é o instrumento que possibilita que sua inspiração se transforme em palavras, rimas e versos, de forma que ele é o criador de uma obra que talvez um dia poderá ser estudada por mestres que então irão encaixá-lo dentro de algum conceito para poder explicar sua arte.Chega a ser quase impossível definir a poesia contemporânea porque ela é eclética, se apresenta de diferentes formas, pois o mundo hoje é assim, múltiplo, diversificado e assim também é o ser humano da atualidade. Mesmo assim, existe um conceito sobre a produção poética do tempo atual, mesmo que ela não tenha regras, normas ou métricas e suas tendências ainda manterem algumas características de outras épocas.


Resumidamente, às tendências contemporâneas da poesia brasileira os estudiosos fragmentaram em conceitos como: poesia concreta; marginália, imitativa, realista,expressiva, etc.


Interessante é que a nova corrente literária, tem chamado a atenção tal qual os autores da antiguidade, fazendo apresentações em público, enquanto muitos exploram a Web, com apresentação cibernética com uso de arte, design e tecnologia.


Desta forma, tomo como exemplo o poeta Agmon Carlos Rosa, que além de apresentações em diversos saraus literários, dominou também a informática e se auto denomina “Menestrel Cibernético”, como diz em seu poema que leva o mesmo título:






“ ...Nessa busca incessante, descobri


A informática, pragmática, sistemática


A internet, provedor, sites, ciberamor,


Tudo isso tem no computador,


Basta programar e ...clicar!


... Maravilha de tecnologia! Onde então


Conectar a inspiração, a percepção,


A filosofia, a metafísica e a catarse,


Metáforas da linguagem poética?


O menestrel então sorriu:


- Elementar, caros amigos...


Acessa o coração do poeta”






Desta maneira, o tecnopoeta, ciente de tal tecnopólio, que é avassalador, encontra-se cercado de uma realidade tecnocentrista que se lhe serve como linguagem poética e faz da tecnologia sua forma de comunicação.


A tecnologia então é um caminho para que poetas saiam do anonimato. Mas mesmo com as ferramentas disponíveis no mercado, a poesia contemporânea tem que contar com seu maior divulgador, que é o próprio autor. Apesar dos sites e agremiações determinadas a fazer com que a poesia chegue aos leitores, ainda é árduo o caminho editorial no Brasil, onde autores acabam tendo que bancar edições, que dificilmente chegam às prateleiras da livrarias.


É certo que os leitores tem opções inimagináveis de livros digitais, e-books, mas é raro um autor sobreviver da poesia num país como o nosso, que não valoriza a leitura. É preciso portanto despertar o interesse pela leitura. Algumas iniciativas isoladas de incentivo à leitura tem acontecido, mas é preciso muito mais para que seja atingido o interesse de estudantes, principalmente os das escolas públicas, pois o que seria dos autores sem os leitores?


Dentro deste cenário de autores tecnopoetas contemporâneos, existem aqueles que não dominam a informática, mas mesmo diante das dificuldades financeiras e das barreiras tecnológicas conseguem realizar o sonho de editar um livro, simplesmente para que seu grito poético seja ouvido.


Assim é autora Graças Gomes, poetisa que escreve nos ônibus, nas praças, nos movimentos da rotina, destacando-se o poema:






“ Grito da dor,


do horror


e pavor


que a violência cria!


Neste trânsito maldito


que mais um grito silencia


e no duro asfalto esfria”






Diante deste mundo tecnológico, tem acontecido os lançamentos de livros em diversos espaços que animam os poetas, mas deveria animar também o mercado do livro de poesias. O impacto das novas tecnologias digitais na produção e difusão de poesia simboliza o presente estado de evolução de nossa poesia.


Apesar da efervescência de poetas em sites e blogs, ainda há aqueles que apenas compartilham seus poemas nos saraus literários ou em antologias poéticas, ou de forma artesanal.


Dentre eles destaco o poeta Antonio Lacerda, que escreveu:






...Ser poeta!


É buscar no meio dos infernos


Um buquê de flores em forma de fantasias”






Essas são algumas considerações. Não destaquei poetas famosos, por que ao meu redor existem artistas autênticos e de grande valor que merecem ser divulgados, lembrados, reverenciados, estudados, para que também façam parte da história da literatura brasileira.


Enfim, entendo que a verdadeira obra poética contemporânea é aquela que expressa em seus versos as marcas do próprio eu de seu autor.






Rosana Montero Cappi


Membro Efetivo da ANLPPB – Cadeira 54






Bibliografia:


Lirismo Acadêmico: Agmon Carlos Rosa “Menestrel Cibernético”;


Gritos: Graças Gomes;


Um Pouco de Todos Nós Em Cada Um:




Antonio Lacerda